"O homem que acena ao longe"

O homem que acena ao longe
Reconhece a demora e espera
Ainda que veja nada mais além das sombras.
E fala enquanto acena, diz
O que entre riso e memória lhe escapa,
Talvez dor ou sono, homem parado

Longe, insistindo na fragilidade de um gesto
Repetido. E quando fala não lhe escapa
O que pensa: «pode a morte resvalar
Para mais tarde, mais fundo, revelar-se
Teatro na cave do mundo, cena
No escuro, longe do centro?»