as velhas novembram

 

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 as velhas novembram
de outubro a dezembro
em fainas novenas  
varejam os ramos com
membros canhestros
erguem-se às hastes à 
cata do fruto à flor da
ramagem sacodem-na
pra panos cerzidos  
desde dezembro anterior  
nos janeiros da apanha  
colocam-nos ao chão
no plinto das árvores  
os panos ao ombro as
talhas de azeite medas
de feno ou serapilheira
as velhas janeiram quais      
espantalhos siderados
em pássaros moveres.  

 

 

na lavoura os pais
à semeia das mães
joeiram os filhos de  
envolta com o grânulo
cereal lábios de sangue
escorrido entre as pernas
ânforas de vinho nunca  
antes bebido traçado às
escuras em cochos curtidos
contendo o mênstruo doce
dos áceres no interior líquido  
o estame amputado cerca
ao bojo regaço das mães  
enquanto elas ausentes     
amamentam os filhos por  
abortar nos embriões da
terra o útero a céu aberto  
os filhos enjeitados à feiura    
à magreza triste dos cães   
rente ao bordo das cantareiras  
donde se vislumbram defronte  
os cancros tumores brotando  
ao dependuro das árvores
das tardes doentes mais as  
velhas nos janelos a espreitar
cá para fora com os rostos
caiados de morte e uns olhos  
póstumos a anteverem o fim. 

 

 

no tronco das árvores
os sobreiros madeiros
de buxo lenhados por
velhos sem rastro de
corpo esquisso dedos   
em clave a restolharem  
no húmus na caruma  
da tarde espiralam os     
laços em enredos nós
que se lhes apertam
como gravatas ao  
pomo das maçãs.