Açougue; O Parto

Açougue

ao açougueiro,
esse cirurgião
ao contrário,
o corpo
é um mapa

a lâmina
já não exime
alguma dor

seu hábito
é de sangue

o amolador
recobrando
a isenção da faca

a balança medindo o preço
do osso,
bucho, pá, lombo, peito,
cabeça de porco

o açougueiro
vai ao freezer
como um padre
vai ao altar
rezar a missa
eximindo pecados
(entre o ouro do cálice
 e o fio do aço)
da carne


O Parto

 nenhum corpo suporta
outro corpo
por muito tempo

então...

mãos que herdam
o viço amniótico,
paciência e tato
para pernas explosivas,
os separam

a parteira rege
de seu inventário
uma gama de métodos
respiratórios
que precedem
uma boa concepção

acomodando um pano úmido
na testa da mãe,
ela divide e isola
lágrimas extremas:
caligrafia de sal

em seu avental
há um quadro
tingido de sangue
que é mais,
muito mais,
que a certidão de nascimento