Cheguei tarde e a más horas

Cheguei ao cabo do pontão
onde não brilha no dia
o farol verde que pensei
ter visto ontem na tua boca 

Nem posso dizer
estou frente ao mar
e porém ao longo da caminhada
talvez a ondulação lenta
tenha soado junto ao betão
como o rumor da saliva
nos canais antigos da vida 

Agora estou frente ao fim
do caminho que afinal
não é mais que um farol
apagado sem escolhos à vista
na paisagem que o poema alcança 

O lugar é quase uma rotunda
separada do mar por um muro
de ao menos duas vidas estendidas
a semi-elipse da concha dum caracol 

É um presente délfico: este 

O ranger das coisas e dos seres é mudo
o eco frio das perguntas enigmáticas
parte no vento marinho duma outra fala 

sons que ficam sem resposta  

ali aqui agora pontos obscuros

lembram-me os negativos

queimados das nossas fotos

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