tarde chuvosa sombria com

tarde chuvosa sombria com
Las Vegas como destino de sonho
ideal, de pelúcia e flamingos
ouvindo pink martinis e vendo cowboys de neon
fumando lucky strikes deleitando-se com o striptease
de showgirls manhosas Barbies à procura do seu ELVIS

por entre as nuvens de fumo
de hotéis de luxo decadente
com lustres estilhaçados onde todos
os princípios barrocos são cortados
ou terminados no tapete ou na cama

dormir ou não dormir

eis a velha e eterna questão
que termina num cabide com ou sem roupa
de perfil por cima de igrejas coloridas
com casamentos ou farsas de tule
cultos mediáticos católicos ou talvez não
Serão eles marítimos?
embarcações drifting up no meio de um mar de cimento

marés vivas com pin ups de vermelho
e canastrões embrutecidos

por que me escreves?
Quem és?
Será que importa? Talvez!

sim ou não?
mas como a curiosidade e os gatos são eternos
amigos amantes e ou rivais
eu estou morta ou talvez não
por saber as respostas ou perguntas!
O puro prazer da escrita e leitura suplanta por vezes o seu objectivo
velha questão literária
a forma ou o conteúdo
batalha campal entre formalistas
russos
ou talvez não.

podemos cantar um canção os dois

podemos cantar um canção os dois
a valsa da matilde do waits
a voz do vinagre onde o álcool se transforma em som

algures no nosso oeste
cactos e bagaço
o blue valentine na kentucky avenue

uma lágrima numa longa
noite sem fim
porque esperamos?
não sei
juro que não sei sentada na berma
já tenho doses de noites a
mais
de esquinas e portas
de adeus em adeus
elas não suportam a separação
não choram mais porque secaram
i never talk to strangers

o som da cidade
fica restabelecido e já não tenho horas
o relógio parou
e eu fiz um gesto obsceno
e desapareci