"The Advantages of Being an Azorian Poet and Artist"

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AS VANTAGENS DE SER UM POETA

E ARTISTA AÇORIANO

 

1 – TRABALHAR SEM A PRESSÃO DO SUCESSO

2- NÃO TER DE SORRIR EM GALERIAS

3- NÃO TER EXPOSIÇÕES NO ARQUIPÉLAGO

4- TRABALHAR APENAS 4 HORAS NO INFERNO

5- SABER QUE A SUA CARREIRA SÓ SERÁ RECONHECIDA DEPOIS DOS 80

6- TER A CERTEZA DE QUE QUALQUER ARTE OU POESIA QUE FAÇA SERÁ POESIA E ARTE AÇORIANA

7- NÃO FICAR PRESO NA ILHA

8- OUVIR AS TUAS IDEIAS NA BOCA DOS TEUS INIMIGOS

9- TER A OPORTUNIDADE DE ESCOLHER ENTRE PEQUENOS TRABALHOS E EXÍLIO

10- SER INCLUÍDO EM VERSÕES REVISTAS DA HISTÓRIA DA ARTE

11- SER SEMPRE UM ESTRANHO EM CASA

12- NUNCA SER CHAMADO DE POETA OU ARTISTA EM VIDA

13- MORRER SOZINHO

 

VÍTOR TEVES

(AFTER GUERRILLA GIRLS)

HABITAR NA PARTITURA

[Einziger, ewiger, allgegenwärtiger,

unsichtbarer und unvorstellbarer Gott]

 

                                                         “sobre a pele o tropel”

                                                                   Luiza Neto Jorge

 

                                                 Poesenho para um filho de

                                               Calíope: Pedro Braga Falcão

        

         A

 

Entre ilhas há o som de pequenos e amoráveis

pássaros. Não falo de Messiaen!

Seres num ninho oceânico, o ovo primitivo

do dó e do ré, algures entre vagas. Não falo de Debussy!

No imenso da divisão, diferença, há aquilo

que não se pode registar.

E se for registado, não será lido.

Na linha clara do dia veremos

o ponto B e o ponto A na linha constantemente

inter

rompida. Não

falo de Schoenberg!

 

Dita a leitura indecifrável da partitura,

a dissolução da sint

axe,

da palavra, para que

o som escrito

seja redito noutra forma

ainda por ouvir.

 

A página (de palavras, pontos, pequenas vírgulas,

areias, flechas e setas, chuva e poças de

lama infinita)

é

todo um universo a que este pequeno

poema [não] pode aspirar. Fragmento inflexível de

chumbo.

 

Partida a batuta, esmagada pelo peso do martelo,

entre palavras antipoéticas,

eu faço,

eu digo:

no espaço em mim há essas folhas

onde o tempo não tem

nem começo nem fim. Cobracisne.

 

Que sejam os olhos a habitar a

indecifrável partitura

escrita inteiramente

por este coração impuro.

 

                                    

                                   B

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Vítor Teves - folha 4, de 6, de “Das Goldne Kalb”, lado B do Poesenho “Habitar na Partitura” (Agosto-Novembro, 2018).