Je suis Charlie Hedbo

A redacção do “jornal satírico” francês, Charlie Hebdo, foi alvo de um atentado hoje, 7 de Janeiro de 2015. O resultado (à data): 12 mortos, 11 feridos, 4 deles graves. Entre as vítimas, Charb (director e desenhador, “je prefere mourir debout que vivre à genoux”), Cabu, Wolinski e Tignous e dois polícias.

O ataque foi perpetrado com pistolas-metralhadoras kalachnikov por dois indivíduos encapuzados (mais um cúmplice) e vestidos de negro, que por volta das 11h20 entraram na redacção e, numa desproporção de forças próprias dos cobardes loucos, cuja ética foi totalmente sugada pela religião, disparam sobre os presentes gritando, segundo uma testemunha, “allahou Akbar”. Antes disso assassinaram a sangue frio o porteiro e depois de fuzilarem a redacção, foi bem disso que se tratou, ainda abateram um polícia na rua (deitado no solo ferido, disparam-lhe uma bala na cabeça).

Face a este horror (“terror”, dizem alguns, mas isso depende já da nossa reacção, só há terror quando nos sentimos aterrorizados), quero exprimir a minha perplexidade e indignação, bem como a minha solidariedade a todos quanto deixaram de estar entre nós ou perderam os seus, devido ao tresloucamento de fanáticos que pensam, à boa maneira dos ignorantes definitivos, estarem próximos da vontade divina (neste caso islâmica, mas, mutatis mutandis, podia ser cristã ou judaica, todos os monoteísmos destilam estes cancros). Uma vingança patética (contra as críticas a Maomé) apagou em poucos minutos vidas plenas, com lastros familiares, e quis deixar um aviso à nossa condição fundamental de sociedades democráticas: a liberdade de expressão.

Se nos baixarmos, se por medo e num sentimento de culpa em ricochete desenvolvermos novos mecanismos de censura, ou pior, de autocensura, este atentado terá vingado. É por isso que escrevo este pequeno texto para expressar a minha condição de irmandade para com os falecidos e prometer defender a todo o custo a liberdade de expressão.