Epítome

Ela tem a idade das flores
e o vermelho dos dias
e o azul dos ventos

e todas as esquinas param
quando eu a vejo.

Nunca reconheci as distâncias
entre os tempos, nem fui ao mar
depois que minha consciência
se firmou sem as rodinhas;

Mas tenho praticado com afinco
a observação dos postes e suas luzes,
do amor das árvores com os fios de energia,
da luxúria de cada janela e da interminável
solidão das construções no horizonte
da cidade.

Tenho corrido com esses pés de pato
através deste lamaçal que é o agora.

Num instante, ainda a chegar,
a abrangência das portas assumirá
um caráter mítico
e tudo que tenho dito fará sentido
– e, então, será esquecido.

 

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