Charles Bukowski, «se leccionasse escrita criativa, perguntou, o que lhes diria?»
/Tradução de João Coles
dir-lhes-ia que tenham uma história de amor
infeliz, hemorroidas, dentes podres
e que bebam zurrapa,
que evitem a ópera e o golfe e o xadrez,
que mudem a cabeceira da cama
de uma ponta à outra
e que logo a seguir tenham
outra história de amor infeliz
e que nunca usem uma fita prateada
para a máquina de escrever,
que evitem piqueniques em família
ou que sejam fotografados num jardim de
rosas;
leiam Hemingway só uma vez,
saltem Faulkner
ignorem Gogol
cravem os olhos em fotografias da Gertrude Stein
e leiam Sherwood Anderson na cama
ao mesmo tempo que comem bolachas de água e sal Ritz,
reparem que as pessoas que falam
insistentemente sobre libertação sexual
têm mais medo do que vocês.
ouçam E. Power Biggs e ponham a tocar o
órgão na rádio enquanto
enrolam Bull Durnham no escuro
numa cidade alheia
com apenas um dia de sobra de renda
depois de terem desistido
de amigos, parentes e trabalhos.
nunca se considerem superiores e/
ou justos
e nunca tentem ser.
tenham outra história de amor infeliz.
olhem para a mosca sobre a cortina de Verão.
nunca tentem ter sucesso.
não joguem bilhar.
fiquem legitimamente zangados quando
descobrirem que o vosso carro tem um pneu furado.
tomem vitaminas, mas não levantem pesos nem corram.
depois de tudo isto
invertam o procedimento.
tenham uma história de amor feliz.
e o que
talvez aprendam
é que ninguém sabe nada -
nem o Estado, nem os ratos
ou a mangueira do jardim, ou a Estrela Polar.
e se alguma vez me apanharem
a leccionar escrita criativa
e me lerem isto de volta
levam logo nota 20
sem tirar nem pôr,
na muche.
In Love Is a Dog from Hell
now, if you were teaching creative
writing, he asked, what would you
tell them?
i’d tell them to have an unhappy love
affair, hemorrhoids, bad teeth
and to drink cheap wine,
avoid opera and golf and chess,
to keep switching the head of their
bed from wall to wall
and then I’d tell them to have
another unhappy love affair
and never to use a silk typewriter
ribbon,
avoid family picnics
or being photographed in a rose
garden;
read Hemingway only once,
skip Faulkner
ignore Gogol
stare at photos of Gertrude Stein
and read Sherwood Anderson in bed
while eating Ritz crackers,
realize that people who keep
talking about sexual liberation
are more frightened than you are.
listen to E. Power Biggs work the
organ on your radio while you’re
rolling Bull Durham in the dark
in a strange town
with one day left on the rent
after having given up
friends, relatives and jobs.
never consider yourself superior and /
or fair
and never try to be.
have another unhappy love affair.
watch a fly on a summer curtain.
never try to succeed.
don’t shoot pool.
be righteously angry when you
find your car has a flat tire.
take vitamins but don’t lift weights or jog.
then after all this
reverse the procedure.
have a good love affair.
and the thing
you might learn
is that nobody knows anything–
not the State, nor the mice
the garden hose or the North Star.
and if you ever catch me
teaching a creative writing class
and you read this back to me
I’ll give you a straight A
right up the pickle
barrel.