Elogio do Riso

 No §327 da Gaia Ciência, Friedrich Nietzsche denuncia o intelecto como “uma máquina pesada, tenebrosa e rangente, difícil de pôr em movimento”. Enorme campo de preconceitos imbricados que visam “tomar a coisa a sério”, é que os bem-pensantes defendem que o processo de compreensão deve ter o rigor mortis de um cadáver positivista. 

A taciturnidade não passa de um fingimento epistemológico, todos, ou quase, sabem que para pensarmos bem devemos rir dos métodos e conclusões, começar, aliás, por rir dos problema formulados (ainda agora olhei para a Via Láctea, e todos os átomos que suportam os “maiores problemas do mundo” entraram num frenesim dançante, parecido ao do velho Ritz Club de outrora). Reparem no que fez e faz a seriedade divina! Não seria preferível, como queria Nietzsche, um deus dançante, que aos sábados fizesse Stand Up Comedy? Vejam os cientistas seriamente instalados nos laboratórios, descobrindo, envoltos pela crença de um serviço público bem remunerado, a próxima molécula da felicidade, porque afinal parecem ser as interacções químicas e eléctricas a definirem a exclusividade do nosso estilo de vida. Olhem para a supina seriedade com que os burocratas legislam a mais ínfima parcela da realidade (e.g., parece que somos obrigados a escrever certas palavras sem algumas letras que certos iletrados omitiam por óbvia ignorância fonética). Enfim, os ditadores, como está plasmado na história, sempre foram de uma seriedade irrepreensível, porque só quem se leva muito a sério pode radicalizar o proselitismo da sua visão do mundo.

Rir, sobretudo de si mesmo, distende os músculo faciais, evitando as estrias dogmáticas precoces. Resvalamos então para o relativismo? Sim, mas pagam-se bem os excessos cacofónicos com uma estética e uma ética, uma epistemologia e uma política... sem desejos de domínio, de esmagamento, de aniquilação... sem a pérfida petulância da Verdade.

Agora, em coerência, resta-me rir um pouco do que acabo de escrever.