Auto Retrato de uma Vegetariana no Reflexo da Faca da Minha Avó

Costumavas segurar-lhes as cabeças até a cobardia tomar conta de ti.

O olho do galo reflecte o sol campestre:
como oráculo, a pupila descansada
adivinha o que virá a seguir;
os teus modos infantis não conseguiam compreender
as ondas de calma que banham o corpo de um pária moribundo. Tu

procuras os suaves pontos da carne suculenta
enquanto a tua avó testa a lâmina da faca
com as mesmas mãos que entrançam o teu cabelo âmbar;
os teus modos infantis não conseguiam compreender
a mudança entre cuidar, matar e cuidar de novo. Feita

de penas macias, a pele da besta é mais quente
do que qualquer amante que alguma vez terás.
Digo: que alguma vez te teve.

Esta é a razão para os meus anos de jejum,
para me recusar a mastigar e comer a carne
dos rapazes que quebram como ossos da sorte.