TOC, Déficit de atenção, Filhas do espelho

TOC

Se não encontra
De imediato
O lápis e o papel 

Se com seus dedos finos
Derrama café no tapete
Já está dado o tom

Do poema?


Déficit de atenção

Há marceneiros que
Abandonam seus projetos no meio da sala
Batem muito com o mindinho nos móveis

Ligam perguntando por eles
Que não sabem o que dizer
Também não entendem nada do que os outros falam

Costumam dominar muito bem
A arte de manusear copos 

Aceitam a vida tranquila:
Não entender o que os outros dizem
Tropeçar nas dívidas
Possuir os hematomas


Filhas do espelho

Quando as crianças descobrem
Que de uma concha sai o barulho do mar
Em frente ao mesmo
Surpreendem-se

Crescem e atravessam espelhos
Cogitam o azar
Algumas doam livros
Outras perdem anéis e brincos

Encontram sozinhas o caminho de casa 

Sobreviventes
Distanciam-se pelo modo com que riem
Do desastre causado pelo corte
Com alguns lutam
Com outros deitam

Todas as paredes que já deram de cara
Guardam o segredo
Algumas serão amadas
Muito amadas
Nas fotografias

Para as que se flagelam com frequência
Talvez o controle seja algo sutil
Como uma navalha