"Quando o osso do sol atinge os campos"

Quando o osso do sol atinge os campos,
e a superfície de água que neles infunde o Inverno
irradia em esquírolas ensanguentadas,
a luz de que são feitas acende nos interstícios da manhã
as imagens fortes da distância.

Está um langor de cemitério,
paira sobre as águas um espírito infernal,
a minha cabeça fervilha na antecipação da fome.

Pôs-se uma manhã limpa como o escárnio,
estou prestes a ser feliz

De João Moita, Uma Pedra Sobre a Boca, Guerra e Paz, 2019