Donos do Rio e da Primavera 

Tínhamos o rio e a Primavera, todos os saltos eram certos, 

A saches levava-nos sem capacete porque ainda éramos imortais, 

Todos os dias aprendíamos que a vida valia a pena, 

Nada tínhamos que saber dela, havia Sol e os sorrisos 

Das colegas de turma com as suas calças bem apertadas, 

Os livros esperavam a noite, a sombra pedia cartas 

E jogávamos com mãos certas, ainda não havia ninguém 

Que nos rendesse, contudo alguns já fodiam, sempre houve 

Roupa interior que se molhava, uma secava no corpo, 

Outra deixava-se pendurada num negrilho, esquecida, 

Para uma memória eterna, lambia-se a poeira dos dentes, 

Como se atravessava o portão da escola sexta-feira, 

Tínhamos tudo, dinheiro para pagar sandes a todos 

No primeiro intervalo do dia de aniversário, 

Poemas só no dia da árvore ou dos namorados, 

Porque ninguém faltava, nada faltava, tínhamos os bolsos 

Cheios de mata-ratos, pipas e tesão, até Primavera, 

Tínhamos o rio, sabíamos os nomes de todos e isso bastava. 

Turku 

06.02.2020