18.

os maiores confrontos dão-se quase por devoção nas noites de maior silêncio. as vozes são uma guerra individual e secreta com a verdade, porém, são por vezes desporto colectivo e violento de esgrima numa discussão caseira que atinge a dimensão de uma noite em branco. pelos olhos disparam-se feixes certeiros com o propósito de cegar de razões a oposição. o discurso fica ligeiramente atordoado numa fase inicial, porque por norma a escolha dos nossos delitos não coincide com o nervo que alimenta a essência da discordância. ora que surgem imprevisões durante o desgaste. os altos e baixos vão de uma parte à outra parte e sucedem-se da outra parte de volta a si. num destes instantes de erosão comum, suspendem-se por bilateral acordo naquilo que se firma: sonhámos em construir um palácio com barro, mas nos avessos dos tijolos descobrimos uma casa a precisar de cuidados intensivos. um deles abre uma janela. em seguida, o fumo que sai (se era o que havia) dissipa-se da confusão grave e aguda de oxigénios e algumas faltas de ar.