Michael Symmons Roberts, Jairo
/Tradução de Hugo Pinto Santos
Então, Deus leva a tua filha pela mão
e arranca-a do leito de morte.
E diz: «Dá-lhe de comer, está esfaimada.»
Dás-lhe frutos com exteriores espessos
– romã, meloa –
comida dotada de peso, que a mantenha aqui.
Esperas que, se ela comer o suficiente,
a luz e o pó e o amor
que tecem a matriz do seu corpo
não se desfiem, nem fiquem tão puídos
que o sol da manhã a trespasse,
sem qualquer sombra, completa.
De alguma forma, esta reanimação
cortou cerce o medo da morte
o choque da presença. Dá-lhe a comer
o cordeiro, ovos, pão ázimo:
põe de lado as ervas, ela tem um doloroso
jejum a quebrar. Senta-te junto a ela,
aparta-lhe as peles para que ela possa engolir,
e repara como a alvorada
desperta cores no seu rosto recentemente beijado.
Michael Symmons Roberts, Corpus, Jonathan Cape, 2004
Jairus
So, God takes your child by the hand
and pulls her from her deathbed.
He says: ‘Feed her, she is ravenous.’
You give her fruits with thick hides
– pomegranate, cantaloupe –
food with weight, to keep her here.
You hope that if she eats enough
the light and dust and love
which weave the matrix of her body
will not fray, nor wear so thin
that morning sun breaks through her,
shadowless, complete.
Somehow this reanimation
has cut sharp the fear of death,
the shock of presence. Feed her
roast lamb, egg, unleavened bread:
forget the herbs, she has an aching
fast to break. Sit by her side,
split skins for her so she can gorge,
and notice how the dawn
draws colour to her just-kissed face.