Haikus Coreanos

Dormem os cavalos
nas estepes -
esqueceu-se o medo.[1]

Escorre por entre os dedos
a areia dourada -
goza a queda.

Depois do Verão
regressam
a palidez e a escuridão.

Tem que chegar o Outono
para a folha
poder viajar.

A fruta que apodreceu
à sombra
cumpriu com a doçura.

Nar´yan-Mar
tão desconhecida
quanto o vermelho próximo.

Escrevo da Sibéria -
distância e frio
em vez de palavras.

Cresce-se -
prémios tornam-se
como aniversários.

Conseguir ser só
num país de solidão -
o absoluto.

Da violência
nascem impérios -
só eles terminam.

Da violência
nascem impérios -
só ela persiste.

A neblina cobre
as estepes -
acende-se o horizonte.[2]

Sabes-me ao nevoeiro
de Novembro
no campo geado.

O Mestre disse -
não é a distância
mas a ausência.

Olha a Lua -
os meus olhos
os teus.

Podias construir
um império no coração
mas não.

Um último salto
da ponte -
todas as vezes.

Um vizinho
louco -
quem não?

Ter a pele salpicada
com a ausência
dos teus lábios.

Dos antigos
nem uma memória
dos seus olhos.

À estrada do hotel
despedidas
e esquecimento imediato.

Quantos olhos
as mesmas
Histórias.

Montanhas de sonhos
e tantos outros
abismos.

Esse ponto de encontro
da humanidade -
a miséria.

Nada está completamente
perdido
se houver dor.

Na dor
a certeza
da possibilidade.

E quando as cinzas
arrefecem
e se continua vivo?

Tudo oxida
mesmo
em segredo.

Facilmente as mãos
se esquecem
de ser vazias.

Leva-se sempre
a montanha
para as distâncias.

Habitua-te
ao amargo -
o Verão é breve.

Estranha o ar pesado
aquele que veio
da montanha.

Sobre o musgo
sempre
em casa.

Descer do monte
reparar
que anoiteceu.

Encher vazios
antes
do vazio.

Ar-Seul

 


 

[1] Sobre a Mongólia

[2] Sobre a Mongólia.