fleumático
/e quando o amargo desce e não resta nada além da náusea?
é a solidão que come as entranhas e dá enjoo.
toda noite de terça tem esse sabor cáustico de furo
"você é muito pessimista", eles dizem
"você já leu Augusto Cury?", eles perguntam.
"você precisa escrever coisas bonitas, dar conselhos,
falar dos astros", eles dizem
ninguém precisa de um homem triste, sei disso,
mas não consigo deixar a dor de lado
e caminhar com um sorriso idiota
como quem compra uma televisão a prazo
nas Casas Bahia.
pago o preço por existir na tangente
por lamber o submundo & a sujeira
como quem lambe um bife cru antes de fritar.
o descaso, o esquecimento, o fracasso,
as doenças, os excessos, as dívidas,
sei disso, ninguém precisa de um homem triste,
não sou funcional na sociedade do sucesso,
não sou sequer prestativo,
não sou absolutamente nada,
escrevo poemas e aceito a tragédia dos nossos dias.
ninguém precisa de um homem triste,
eu preciso da minha tristeza,
é com a minha miséria que faço esse verso.
O poema "Fleumático" está incluído no livro "O Abismo é um Instante" (Editora Penalux), que será lançado no próximo sábado, dia 22 em São Paulo.
Mais informações na página do evento no facebook: https://www.facebook.com/events/721438141364470/