"Uma estrutura sólida", Maggie Smith

Tradução: Francisca Camelo

A vida é curta, ainda que esconda isso dos meus filhos.
A vida é curta, e eu encurtei a minha
de mil maneiras deliciosamente desaconselháveis,
mil maneiras deliciosamente desaconselháveis
que esconderei aos meus filhos. O mundo é pelo menos
cinquenta por cento terrível e esta é uma estimativa
conservadora, ainda que esconda isto dos meus filhos.
Por cada ave há uma pedra arremessada a uma ave.
Por cada criança amada, uma criança desfeita, dentro de um saco,
imersa num lago. A vida é curta e pelo menos 
uma metade do mundo é terrível e por cada estranho 
gentil há um que te vai desfazer,
embora eu guarde isto dos meus filhos. Estou a tentar
vender-lhes o mundo. Qualquer agente imobiliário,
enquanto te mostra uma verdadeira espelunca, tagarela 
sobre a sua estrutura sólida: este sítio podia ser lindo, 
certo? Podias fazer disto um sítio lindo.


(in Waxwing, Issue 10, Junho 2016)

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“Good Bones”, Maggie Smith

Life is short, though I keep this from my children.
Life is short, and I’ve shortened mine
in a thousand delicious, ill-advised ways,
a thousand deliciously ill-advised ways
I’ll keep from my children. The world is at least
fifty percent terrible, and that’s a conservative
estimate, though I keep this from my children.
For every bird there is a stone thrown at a bird.
For every loved child, a child broken, bagged,
sunk in a lake. Life is short and the world
is at least half terrible, and for every kind
stranger, there is one who would break you,
though I keep this from my children. I am trying
to sell them the world. Any decent realtor,
walking you through a real shithole, chirps on
about good bones: This place could be beautiful,
right? You could make this place beautiful.

(in Waxwing, Issue 10, in June 2016)