Ao longe um cão ladra às estrelas — Haikus
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À beira do rio
o reflexo
de todos os verões.
No telhado do velho palheiro
dormita
um jovem gato.
Dourado
sobre a vinha velha
o último sol do dia.
Passa o rio —
onde o reflexo
da minha juventude?
No monte ao sol
a pele de uma cobra —
preservativo seco.
Festa na aldeia vizinha
grilos no jardim
da velha casa.
Ao longe
um cão ladra
às estrelas.
No bairro abandonado
os gatos vadios
são reis.
Na aldeia
uma de cada vez
amadurecem as framboesas.
Rio abaixo
levada pela corrente
uma abelha.
Abre a framboesa
antes de a meteres
à boca.
A Lua há momentos
em cima de um pinheiro
agora noutro.
No poço
cai uma maçã —
que terei esquecido?
Ouvir os outros
como se ouve
uma tempestade.
Como se ouve
o vento
ouvir o vazio.
Ouvir palavras vazias
como se ouve
o vento.
O caminho mais longo
é o do silêncio —
regresso a casa.
A videira abraça
ausências
e distâncias.
Longo é
o caminho
do silêncio.
À sombra do negrilho
que secou
a infância.
Horas em branco
preenchendo
páginas de vazios.
Quanto teremos
que acabar
até ao evidente?
Acordar com o som
da primeira água
da agueira.
Ao sol três caixas de figos
e as mãos do meu pai —
anoitece.
Termina o torneio
de sueca
o sol põe-se.
Portugal, Agosto 2023