Raposa em Fato de Homem
/
Michael Symmons Roberts
De The Half Healed, Jonathan Cape, 2008
Tradução de Hugo Pinto Santos
Mascarada e enluvada, cerdas alisadas
sobre o dorso, enfraquecida debaixo do calor,
a raposa fica em silêncio nas recepções,
atenta a palavras erguidas em defesa, fundos públicos.
Emissária dos bosques silvestres, agente
do lado de lá, a cabeça oscila
ao vinho, os canapés, dá-lhe vómitos o fedor
das pessoas, a carne e o suor delas.
Quando vêm táxis, esgueira-se por cozinhas,
põe-se de quatro (ainda em traje formal),
dispara a correr por ruas escusas
como um senhor ferino até dar com zonas limítrofes
onde – rasando a casca de uma árvore –
lhe sai a pele de homem
como uma sépala expõe a lisa vermelhidão de uma flor.
Uma língua que sorve no frio,
focinho no bolor das folhas, fundura de juncos, cabos
de aço, de instinto. Só eu fui testemunha
e tomo-o como ressurreição (pele abandonada,
o além como alma de raposa), portanto observo
num pasmo e abrando o fôlego até que lhe seja
possível ver, e uiva, e uiva.
Fox in a Man Suit
Masked, gloved, brush tucked flat
against her back, faint with heat
this vixen is silent at soirees,
attentive to talk of defence, the public purse.
Emissary from the wild woods, agent
from the other side, she shakes her head
at wine, at canapés, she gags on human
stench, their meat and sweat.
When taxis come, she slips through kitchens,
drops to all fours (still in black tie),
sprints along the back streets
like a feral duke until she meets the edgelands
where – rubbed on the shuck of a tree –
her man-skin peels off
like a calyx and the sleek red flower unfurls.
Tongue drinks in the cold,
nose down in leaf mould, deep rush and tow
of attachment, of instinct. I, the only witness,
take this for a resurrection (body sloughed
and after-life as fox-soul), so I watch
in awe and slow my breath until
she catches sight and howls and howls.