Sinéad Morrissey, Farol

 

Tradução de José Manuel Teixeira da Silva

O meu filho ainda está desperto às dez, estirado 
no seu beliche, junto ao tecto, iluminado e vigilante. 
Fins de Agosto. Já o profundo 
céu diurno deste solstício a norte se obscurece 
cada vez mais cedo, numa coroa de nuvens; 
a luz da sua Estrela de David e a lua de plástico 
empurram, lá fora, o crepúsculo para a noite.  

Ao longo do Lough, onde os ferries se aventuram tranquilos 
e certo dia um paquete, vasto como palácio, 
foi avançando, no seu corpo brilhante, para o mar aberto- 
um farol inicia o longo discurso nocturno 
feito de sinais entrecortados; cintila e lança 
a esfera dos seus raios, detém-se e apanha-os 
e de novo os arremessa para lá da sua paralaxe. 

Ele conta cada um dos laços macios que lhe invadem a cabeça, 
todos os intervalos de treva, e imagina que sejam só para si- 
o aceno desse mundo em que se não pode penetrar: 
os dois em parte obscuros, em parte visíveis, 
protegidos numa espécie de conversa de rapazes 
que mais ninguém consegue ouvir. Nesse lugar privado, responde o farol, 
de pássaros e janelas devassadas- sim, eu já lá estive. 


Sinéad Morrissey  (Irlanda, 1972), Parallax, Carcanet, Manchester, 2013 

 

 Lighthouse  

 

My son’s awake at ten, stretched out along 
his bunk beneath the ceiling, wired and watchful. 
The end of August. Already the high-flung 
daylight sky of our Northern solstice dulls 
earlier and earlier to a clouded bowl; 
his Star of David lamp and plastic moon 
have turned the dusk to dark outside his room. 
 
Across the Lough, where ferries venture blithely 
and once a cruise ship, massive as a palace, 
inched its brilliant decks to open sea— 
a lighthouse starts its own nightlong address 
in fractured signalling; it blinks and bats 
the swingball of its beam, then stands to catch, 
Then hurls it out again beyond its parallax. 
 
He counts each creamy loop inside his head, 
each well-black interval, and thinks it just for him— 
this gesture from a world that can’t be entered: 
the two of them partly curtained, partly seen, 
upheld in a sort of boy-talk conversation 
no one else can hear. That private place, it answers, 
with birds and slatted windows—I’ve been there.