Michael Symmons Roberts, Telex
/tradução de Hugo Pinto Santos
Há noites de um calor africano, aqui.
Esta é uma delas. Tão quente que não conseguimos um gesto,
e ouvimos hélices enormes
às voltas sobre nós, as revoluções
que fazem, tão constantes que nos apetecia que a electricidade
tivesse dias bons e dias maus.
Os estores suspensos,
pálpebras que deixam cair faixas
em cima do chão, formam bandas de luz,
de poeira, por todo o quarto.
E nele podem cair aprisionados
insectos e até mesmo pássaros.
Lá fora, a rua estende-se a direito por uma milha,
sublinhada pela escura frontaria de casas
como esta. Finge continuar,
depois termina numa vedação
e num terreiro. Canal e carris
dali para fora.
Com este calor
gosto de ouvir as tuas memórias do Egipto,
tardes tão quentes que havia
que ficar no chão, junto ao rádio.
E mesmo aqui uma secretária
da tua fábrica na floresta almoçava
ao sol e mandava um telex
a Deus quando voltava.
Michael Symmons Roberts, Soft Keys, Jonathan Cape, 1993
The Telex
Some nights we get African heat
here, this being one. Too hot to move,
we listen to the huge propellers
loping round above, their revolutions
so constant we wish electricity
had moods.
The blinds are tilted downwards,
eyelids, letting stripes fall
on the floor, making bands of light
and dust across the room
in which insects may be trapped,
even birds.
The street outside is a mile straight,
lined with dark-fronted houses
like this one. It pretends to carry
on then ends with a fence
and a field. Canal and rail from then
on out.
In these temperatures it’s good
to hear your memories of Egypt,
how the afternoons were so hot
you had to lie low with the radio.
How even here a secretary
at your factory in the forest took
lunch in the sun and sent a telex
to God when she got back.