wastelands
/quero dos teus olhos
esse naufrágio azul
sobre as pálpebras
o bom dia, senhora
no sotaque indefinido
de manhã
quero a inutilidade
do candeeiro
quando a luz invade
as portadas
e se te deixas inteiro
na condescendência
da nudez, é a tua
boca que procuro
ainda cega, perdoa
se a sede é permanente,
levo aos dedos o teu sémen
por imaginar belos
os filhos dos teus filhos,
então invade sobe
trepa o meu ventre
(seremos sempre
animais de baldios)
e perdoa de novo
se tudo o que tenho
é esta absurda solidão;
aceita a minha inabilidade
para traduções complexas,
é em português que te ofereço a língua
e todas as minhas
petit-morts. e quando cair babel
estarei aqui plantada,
gerando raízes nesta terra
de ninguém,
entregando-te a coragem
de já não saber da pátria
e as estrias os dentes
as costas vendadas
prontas para te receber
ao pequeno-almoço, e sim,
esta sou eu e não
a ausente de mim,
submissa ao relento de
um dia
não estares mais.
é assim que recebo
a catástrofe,
os restos das tuas sardas
sobre o meu corpo, ou:
mais uma manhã
abraçando
teu naufrágio.