O lançamento do "Porque canta um pequeno coração", de José Pedro Moreira, é amanhã!

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lançamento de PORQUE CANTA UM PEQUENO CORAÇÃO, livro de poesia de José Pedro Moreira, com capa/desenhos de André Ruivo
///// Apresentação por Elisabete Marques
///// Leitura de poemas por Tatiana Faia e Victor Gonçalves

Resistência Lisboa, Calçada Marquês de Abrantes, nº 82, Lisboa
//////////////////////// Dia 5 de Outubro às 18:30h


as fontes pulsam
como se tivesses levado
uma pancada na cabeça
e um zumbido anuncia
um novo estado
de hiper-realidade
regressas
a um mundo árido
óbvio
vês
três jogadas à frente
sordidez e vergonha
ainda assim persistes
em anotar os números
fazer os cálculos
convertendo
em livro-razão do teu vício
o caderninho de infância
onde anos antes
à margem dos detritos
da mais grandiosa
guerra intergaláctica
sonhaste que um dia
um pequeno coração
poderia cantar

"O quarto rosa" de Francisca Camelo: apresentação hoje!

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marilyn

gostava de ter sonhado
mas foi real
desta vez foi um veado
cabeça lustrosa
pêlo brilhante
olhos aguçados
focinho pequeno e delicado:
uma marilyn monroe
dos animais da floresta.
o veado parava
encrustrado à parede
numa loja kitsch.
segunda mão,
a etiqueta dizia,
se/gun/da/mão
digerir o significado dessas palavras
e o preço possível a pagar por isso:
olhava-me quieto
vítreo mas tão vivo
o almoço a subir-me
acidez acima
olha só que atroz
assombração
todos nós podemos
ser embalsamados um dia:
imaginei os meus olhos vítreos ali
alguém a tocar-me na íris
com a unha do indicador direito
vê se faz barulho
vê se são de vidro
tocarem-me no cabelo
pode ser falso
apesar de todo o brilho
as pestanas longas de marilyn diziam-me
tu também podes
estar um dia aqui
embalsamada a um preço caro
numa loja kitsch em segunda mão 

(talvez seja isso a
reencarnação).

sehr glück

ontem fui à barraca
da vidente
handlesen
o cartaz rodeado por aquelas
luzes baratas com que as pessoas
rodeiam o quarto, tu sabes,
before sunrise, we’re all
stardust
, capital europeia,
tudo isso a enquadrar o cenário:
agarrou-me as mãos
e desdentada, sorriu: vais ser
uma kaiser três filhos vida longa
(casar nem por isso)
sehr glück, ela disse,
mas a tua sorte é estranha

referia-se provavelmente
àquelas últimas manhãs
um quarto sem persianas
quando volto da casa de banho
e encontro um homem já vestido que me esclarece
só há um kaiser e é um jogador de futebol alemão

sentado no sofá,
(pernas abertas
mão sobre a virilha
ainda quente)
notifica-me prontamente:
precisa de alguém
para os domingos da minha
ausência. acrescenta, quando vê a fruta
no centro de mesa, i love strawberries,
e semeia sem saber
calos na minha garganta
por favor, alguém que compre
morangos a este homem
quando não estou
 

as marcas da almofada ainda na cara
(desejar esse desleixo, o hálito pesado,)
aprender novas formas de
condicionar a incerteza
sentar-me no sofá
para abandonar de seguida:

  1. o lugar fresco do fantasma

  2. a madrugada para sempre poluída

  3. o conceito de sorte

mas os morangos:
intactos.

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