um rapaz todo barriga

os ditames sobre a morte de todos quantos 
a evitam começaram a ressurgir como 
avisos à porta de todas as portas

os disfarces amanharam-se com o 
desconforto de não saber meter-se por baixo nem 
à volta da maior das evidências, a fuga

eram velhos, em fuga
e os carros passavam com ar de descoberta das rodas
e da ilusão chapada de que não giram, só se eternizam
no puro círculo, figura estatelada ao comprido em dia de
duvidar e então ir ler 

um rapaz cheio de riso, todo barriga
todo luz verdadeira de ser real
chegou sabendo isto tudo já

escrevendo a morte, fez com
mais ou menos timbres e biografias
três vozes opacas sobre a palavra morte 
a palavra morte da palavra

[Gugu]

Gugu
não podemos dizer
que há nisto
grande verdade
no jogo
de pergunta e resposta
na descoberta
de onde
ir a seguir

as bússolas morais
foram descontinuadas
imperam as forças de mercado
demasiado dispendiosas
não é possível delegar
a prestadores de serviços externos
e depois
matéria não reciclável
aquelas agulhinhas de prata
tomos e tomos
de tratados morais
séculos de humanidade

a esperança
como nos demais
assuntos do espírito
recai na tecnologia
um GPS moral
um algoritmo que dite
o que há a ser feito
quantos e quais
os que devem morrer
que prenda dar à vovó
pelo Natal
quem e como amar
entretanto Gugu
nós podemos sonhar
um futuro mais simples
e fazer o possível
com a nossa canetinha

perdidos
numa tempestade de barulho

como se seguíssemos
um fiozinho de prata
que brilha no escuro
e passamos
pelo Minotauro
mas o Minotauro
está ocupado
a jogar
World of Warcraft