A mulheres que chegam à Casa do Lago
com seus automóveis e seus filhos
de um ano ou três ou quatro
observam-me sonolentas
Elas são loiras e gostam de passear pelas galerias
onde apodrecem quadros feitos por rapazes decentes
Elas olham-me enquanto seus filhos decidem
se mijam nas calças ou não
Elas transmitem-me com os seus movimentos
a certeza de uma pequeno burguesia em ascensão:
pernas que os tecnocratas usaram
músculos que os tecnocratas usaram, mamilos
que os tecnocratas usaram
Nelas vejo as raparigas
que não há mais de um ou três anos
pensaram na vida como algo diferente
desta maçã de plástico facilmente previsível
Nelas ainda posso ver as raparigas
no primeiro semestre de Filosofia
aparecendo intempestivamente no teu quarto de então
e gritando amo-te amo-te
ou levando-te pelo pénis
em plena rua
perante o horror das mães
dos seus futuros maridos
e lendo poemas delas mesmas
onde diziam não me venderei
meu amor não precisa de guarda-chuva
onde se mostravam ao mundo de uma maneira limpa
meu amor é a chuva
Elas erguem os seus bebés e parece que os oferecem a ti
Elas pintam os lábios olhando-se
nos espelhos dos seus carros
mas na verdade vêm-te a ti que te afastas
Que te afastas
mais aborrecido que enojado
pensando nas raparigas que não há mais de um ou três
anos
(ou duas semanas?)
navegaram pela 1ª vez numa cama contigo
descobrindo que um orgasmo é algo definitivamente Belo
e Explosivo
e sendo feridas por essa explosão
e por essa beleza
Elas metem as suas coisas no carro
sacos, programas, cartazes, crianças, estranheza
e vão buscar o marido ao escritório
E aceleram, aceleram, aceleram
mas a Terra move-se muito mais rápido do que elas
Roberto Bolaño