E no entanto chacina pode ser o plural riso...
– Javier Rodrigues Rodrigues (traduzido por Joseph Coleman)
Foi assim que me contaram a história:
um inglês, um irlandês e um escocês
que desciam a Union, chacinados, com grande espalhafato, e
o resto é uma lenta ascensão seguida de queda.
Eu fumava, enquanto ia passando os olhos pelo copo embaciado,
o relógio de mergulho, o anúncio da Guinness por trás
do gim, e vi três rostos que num esgar pronunciam:
O teu gajo entra num bar, com balcão de ferro... au.
*
A meio do caminho haverá desejos, esposas, ilhas
desertas em silêncio, tribos da selva, pelotões de fuzilamento,
últimos pedidos e génios engarrafados em jogos infantis.
No fim, vêem-se os frascos marcados pela maré, abandonados
a um fumo táctil, os fios eléctricos descarnados
do ar que pende como mordaças a puxarem burros para trás,
que à partida já não eram nada de especial.
Portanto, por favor, nada de aplausos, de risos, e, por favor, nada de aplausos.
*
De cada vez que uma rodada transforma o vidro no choque
sólido da chuva, e o pub gera as suas bolsas de ar, encolhe os ombros e cria raízes,
há uma ovação até às casas de banho. Um caralho qualquer, um gordo,
leva um soco na pança e é atirado para dentro de um Corsa.
Inesperado ferimento de bala, a lua surge
para inundar o parque de estacionamento. Outro qualquer que
discorra sobre piadas e o inconsciente,
outro qualquer que se refira à sorte dos irlandeses.
*
No espesso relvado à esquerda da relva bem aparada,
o mesmo homem que entrou no bar
está ali, dobrado de riso.
A palhaçada do seu rosto rude, cor de
casca de ovo, está prestes a romper num esgar,
o último a ser visto no azul de céu de um fraque,
escarranchado no grande ecrã do seu Samsung.
O mais certo é que ninguém se meta com ele.
*
À luz do dia, a lua declina no céu como uma gota
de condensação e, em sinal de respeito, tiram-se bonés
de golfe que anunciam lendários nomes locais, depois alguém tosse,
desliga a musiquinha do relógio de pulso.
O segredo da boa comédia.
O modo como o horizonte quase intercepta
a língua da lua, esticada para a comunhão,
como uma piada por momentos esquecida.
Nick Laird, To a Fault, Faber & Faber, 2005
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