Caderno 3
/Veja também a página do Caderno 3
onde encontrará mais informação sobre a publicação e vídeos de leituras de alguns poemas.
somos o púlsar das aves/ a rocha linguística/
toda potencia calquera virtualidade/ unha exposición infinita/
un infinito de dor// non cruzamos correspondencias
Chus Pato, Sonora
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O filósofo
costumava falar
da vida justa e recta; dizia
que todas as manhãs
tomava um café, fumava um cigarro
e tinha o seu
momento escatológico:
«Eis o culminar da cultura,
o rigor das palavras equívocas,
um trocadilho barato.
Muito lá ao longe, existe um mar
e nele um barco que vai e vem
sem parar,
movido por uma força íntima,
no perfeito silêncio,
um mundo para lá das palavras,
da minha língua,
um mundo que não tenho,
mas me tem. Não quero
falar nem calar. Por mim,
apenas ambiciono ser
uma nuvem azul no céu limpo,
uma gota de água no rio calmo.»
Quando morreu, deixou testamento.
Duas frases:
Ǥ1. Quero ser cremado nu.
§2. A vantagem de morrer
é que posso deixar a louça por lavar.»
No Café Sampa
o café é sumo de peúgas,
os bolos, borracha da Sibéria,
o vodka, metanol puro,
não há serviço às mesas,
mas, felizmente, o empregado
e caixa
é casmurro e malencarado,
calado como uma rena
a pastar neve,
e deixa-me em paz com a minha
depressão
tamanho familiar.
Ali estou sozinho
como numa
retrete privada.
(Poemas de Makki Ahtisaari)
Não não é por amor nem por compaixão
nem sequer por indiferença
que este sol pousa na pedra e no meu corpo
e os aquece a ambos
mas apenas porque
há uma abertura no dossel das árvores
e o planeta está assim alinhado
daqui a pouco a China a Rússia a Carélia
e todas as cidades do mundo e todas as aldeias e
as pessoas que há nessas aldeias
e todas as criaturas da terra em geral
rodarão imperceptivelmente no espaço
e a sombra também
cairá aqui
e portanto tudo procede
com a mesma indistinta
falta de vontade
Livros, filmes, ideias.